Explosão nos Cripto Games durante acumulação do mercado. O que podemos aprender com isso?
Os jogos que utilizam tecnologia blockchain parecem antecipar os desafios de implementação das tecnologias DeFi, que prometem ajudar no processo de incluir milhões de pessoas ao universo dos serviços financeiros básicos (conta, crédito, poupança, seguros etc). Sem dúvida exigem eficiência nos processos de adoção e a escalabilidade das tecnologias.
Uma maior adoção das tecnologias DeFi passa nesse momento por atualizações em diversas redes e protocolos, havendo destaque considerável para a rede Ethereum. A rede vem recebendo atualizações recorrentes, antecipando um conjunto de atualizações mais robusta que deve ocorrer nos próximos meses; o ETH 2.0, sendo oportuno lembrar que a rede Ethereum tem o desafio de se atualizar enquanto cresce e prove serviços. A rede não pode desligar um pouco para manutenção. Ainda, se a própria rede Ethereum não se tornar mais eficiente, poderia em tese perder espaço para outra rede ou para soluções de segunda camada como a Polygon Matic por exemplo (embora no cenário atual, parcerias simbióticas são muito mais prováveis). Uma parcela das expectativas já foi atendida com as últimas atualizações, que tornaram o “gas” (taxa por transações dentro da rede Ethereum) menos custoso; reforçando as crenças e esperanças de usuários da rede.
Nesse contexto, vamos examinar um jogo que ilustra o momento atual dos games na blockchain e que usa a rede Ethereum;
Ascensão do Axie Infinity
Dinâmicas do Jogo
Algo que desperta a atenção de muitos é que o jogo é conhecido por “paga para jogar” (“earn to play”). Existem metas diárias no jogo, e que se conquistadas proporcionam tokens que se pode trocar por dinheiro (fiat). Para cumprir essas metas os relatos dos jogadores descreve um investimento de tempo em torno de 3 horas por dia. É essencialmente um card game de estratégia, inspirado no estilo Pokemon, onde equipes de criaturas combatem. Os combates podem ser entre jogadores (PVP, player versus player) ou em modo aventura, em que se combate a máquina (https://axieinfinity.com/).
Ações no Game, como comprar uma criatura ou realizar a reprodução de criaturas, custam tokens. O custo mínimo inicial de comprar 3 criaturas, necessárias para começar a jogar, é de aproximadamente 300-500 dólares. Vender criaturas (Axies) que o jogador venha a produzir pelo cruzamento de criaturas que possui é outro possível gasto/fonte de renda. As criaturas mais baratas custam centenas de dólares, as mais caras; milhões (literalmente, o Axie mais cara foi vendido por 300 ETH). Para um bom início como “criador de criaturas” (“breeder”), o valor comumente mencionado é de aproximadamente USD 1500 (https://marketplace.axieinfinity.com/).
O jogo utiliza dois tokens próprios (SLP e AXS) em sua mecânica, além de Ethereum, e claro; os preços dos itens no jogo oscilam com o mercado cripto.
Tecnologia
O desenvolvimento e a adoção de novas plataformas e serviços fica nos bastidores da expansão dos games. A recente implementação da carteira Ronin (Wallet) e rede Ronim, solução de segunda camada (layer 2) que busca solucionar os altos custos da rede Ethereum, contribuiu muito para a explosão do Game e dos tokens associados. Os usuários agora tem 100 transações grátis por dia na rede Ronin, o que reduz o custo, pois elimina o uso da rede Ethereum em algumas ações do jogo (nesse caso, a rede Ethereum não é usada e sim a rede Ronin). A Ronin roda as transações do Axie Infininity, sendo desenvolvido pela mesma equipe; https://skymavis.com/. Interessante notar que a rede Ronin está aberta para outros projetos.
Comportamento
Compreender dinâmicas e aspectos comportamentais ajuda a entender novas tecnologias que as vezes parecem abstratas. Há nesses jogos um apelo por algo demasiado humano; os hábitos de se relacionar e colecionar. Esse possivelmente é o maior trunfo das NFTs em seu processo de adoção massiva. O ato de colecionar traz embutido as possibilidades de troca, escambo e comércio, que contextualiza os usos de DeFi. O paradigma de “comprar um jogo” tende a ser substituído pelo de transacionar como mecânica inerente ao jogo, e o Axie é um exemplo disso. O jogo é “grátis”, o custo é comprar o que é necessário para começar e essa “compra” já é “gameficada”; já repercute no jogo. Muito diferente de quem compra um console de videogame ou mesmo um jogo. O ato de comprar um console ou um jogo não influencia em nada no jogo em si, mas nos jogos com apelos colecionáveis, a compra já repercute no jogo e se relaciona com escolhas do usuário e por consequência com sua própria noção de identidade. O que ele compra, representa de forma direta; quem ele é. Seus personagens, apetrechos, posses, qualidades e defeitos. Apenas pergunte aos Axies.
Os projetos que captarem essa conexão de comportamento com as novas tecnologias blockchain tendem a se destacar, pois tem a seu favor a própria natureza humana. Aparentemente, a única coisa realmente nova em jogos do tipo Axie Infinity são as blockchains. Card-games, troca de cartões, figurinhas etc, já existem a bastante tempo e sob esse prisma as tecnologias complexas se simplificam; pois são “apenas” formas de operacionalizar novas maneiras de fazer algo que os seres humanos já fazem.
Uma das evidências dessa conexão entre tecnologia e comportamento são os bolsões de aluguéis de conta; um mercado paralelo, em que investidores constroem “kits” para se começar a jogar um determinado jogo e então alugam essa contas para quem não pode ou não tem interesse em custear esse capital. Há atualmente filas de jogadores interessados em jogar Axie usando a conta de um “patrocinador”, sendo a divisão dos lucros mais comum; aproximadamente 50% para cada parte. Ou seja, mesmo quem não tem dinheiro pode conseguir uma maneira de jogar e o fato de haver mais jogadores interessados que investidores cria uma pressão de mercado que favorece o ecossistema do jogo, enquanto isso perdura. Tudo isso importa pois o Axie não é o primeiro nem o último jogo que incorporará esses elementos. Porém é o primeiro na tecnologia blockchain a ter esse volume financeiro.
Alta nos tokens gamers
Os dois tokens proprietários do jogo; SLP e AXS são listados na Binance. A AXS, token que representa o principal elo de contato dos ambientes do jogo com o mercado tradicional, teve valorização expressiva nos últimos dias (assim como os tokens MANA, do jogo Descentraland, ALICE, do Alice My Neighbour, entre outras).
Sob o ponto de vista do investidor de cripto ativos o universo de games é fértil e a alta recente de tokens gamers é uma ótima oportunidade para conhecer mais sobre tecnologias e comportamentos com alto potencial disruptivo – independente de se gostar ou não de games.
Essa nova leva de jogos cripto frequentemente reúne as tecnologias NFTs e DeFi, pois possuem itens únicos (NFT; tokens não fungíveis) e seus jogadores utilizam moedas que podem ser trocadas por cripto moedas e logo; dinheiro “normal” (fiat).
DAOs
Ainda, existe a questão da governança descentralizada nos games, permitindo que jogadores participem nas decisões sobre os rumos dos projetos, fortalecendo o sentimento de Bpertencimento social e explorando as tecnologias DAO. Essa é outra tecnologia que contou com a contribuição da rede Ethereum, pois a primeira DAO foi criado para rodar nessa rede. Novamente, o uso de DAO em games também pode antecipar de muitas formas os desafios de adoção dessa tecnologia – que impacta campos de aplicação diversos, como; gestão de projetos, relacionamento com o consumidor, governança e até a política tradicional.
Esse é um outro assunto interessante que será analisado em breve.