Staking – Como se beneficiar dessa modalidade de Renda Passiva?

Staking é uma forma de um investidor alocar cripto moedas que já possui com o objetivo de receber mais moedas como recompensa. Ao “travar” esses fundos, o usuário promove operacionalidade e segurança a uma rede blockchain e recebe por isso. Esse processo é diferente da “mineração” e recebe a alcunha de “forja” (“forging”) ou “cunha”.

Essa operação pode ser feita em uma exchange que ofereça esse serviço ou em uma carteira cripto (“crypto wallet”) como a Trust Wallet.

Para se beneficiar dessa possibilidade não é absolutamente necessário entender o funcionamento das tecnologias blockchains a fundo, mas certamente o conhecimento pode ajudar a dar segurança e embasamento para decisões, assim como a enxergar novas possibilidades de lucros em um mercado tão dinâmico. Ao longo desse artigo, serão abordadas ideias simples e fáceis sobre como começar a usar essa modalidade imediatamente, assim como mecanismos de funcionamento para se entender mais profundamente conceitos essenciais para a prática de staking e o uso das tecnologias blockchain e DeFi.

Funcionamento da Tecnologia Blockchain

Nos sistemas de blockchain voltados para cripto moedas, os saldos e as transações dos participantes são  registrados em um banco de dados descentralizado, e é necessário que todos possam ter acesso a uma cópia exata desses registros. Caso não; haveria informações contraditórias na rede, impossibilitando o propósito de um sistema com essa finalidade. Processos criptográficos permitem que cada usuário possa gastar as suas moedas e apenas essas. É preciso haver consenso sobre todos esses dados.

O Conceito Trustless

Essa propriedade foi introduzida ao conceito de redes peer-to-peer (P2P) pelo Bitcoin e possibilita que todos os dados de transações da rede sejam verificados e permanentemente guardados em uma rede com acesso público (blockchain).

Um sistema “trustless” (“sem necessidade de confiança”) permite que usuários não precisem se conhecer ou ter confiança mútua para que funcione. Nenhuma entidade tem autoridade sobre o sistema e o consenso é possível sem que os participantes tenham que conhecer ninguém nem tenham que confiar em nada que não seja o próprio sistema. Sistemas centralizados não são trustless; usuários delegam poder a um ponto do sistema e o autorizam a fazer e garantir decisões (como transferências bancárias comuns, por exemplo).

Blockchains conseguem “trustlesness” promovendo incentivos econômicos para comportamento honesto associado a alta dificuldade técnica de fraude e baixas “recompensas”. A confiança não é eliminada, e sim distribuída entre vários participantes. Esse tipo de processo possibilita manter um conjunto de dados que não pode ser apagado, registrado em ordem cronológica em uma rede descentralizada. No funcionamento das cripto moedas, os saldos de cada usuário são registrados em um banco de dados que está “espalhado” (distribuído), e é vital que todos os nós (“nodes”) tenham uma cópia idêntica desse banco. Assim, não há informações conflitantes e sim consenso. Na cripto economia a aplicação dessa funcionalidade é imediata, o consenso é sobre os próprios valores negociados. O Bitcoin, começou usando o protocolo PoW para criar essa coordenação entre participantes. 

Ao adicionar um bloco na rede, o usuário deve entrar com uma participação (“stake”), um valor que desencoraja conduta desonesta, pois em caso de trapaça a participação é perdida. Essa participação pode ser: poder de processamento computacional, cripto moedas, a própria reputação, entre outros. Existe incentivo para boa conduta e ela é facilitada e remunerada. A remuneração comumente é feita na própria cripto moeda, senda derivada da emissão de novas moedas (mineração), fração das taxas pagas ou ambos. A tentativa de trapaça é cara, muitas vezes inviável e traria pequenas vantagens. 

A dinâmica estabelecida é a de que produzir blocos de informação é caro (tempo, energia, equipamento), mas a validação pelos usuários é barata. Assim os validadores podem ser constantemente verificados pelos participantes. O ideal é que a produção de blocos seja difícil, mas a validação por qualquer usuário seja fácil. Isso garante que os validadores sejam constantemente verificados pelos usuários regulares. Eficiente para usar, oferece recompensas para apoiar e exige muito esforço para fraudar.

Para compreender como funciona o Staking, é útil entender os “Algoritmos de Consenso”. Há vários tipos de algoritmos usados para se estabelecer consenso, nesse artigo nos deteremos em dois; PoW (Proof of Work; “Prova de trabalho”) e PoS (Proof of Stake; “Prova de Participação”). Esses três conceitos são fundamentais para entender o funcionamento do Staking, do Bitcoin e das Blockchains; caso não domine: chegou a hora.

Algoritmos de Consenso

Estabelecer consenso é uma necessidade para o funcionamento das blockchains. Os algoritmos que produzem esse consenso são essenciais para o funcionamento de sistemas distribuídos como as blockchains. São importantes não só para sistemas financeiros digitais, mas para as blockchains de forma geral, sendo um dos princípios dessa tecnologia, viabilizando-a a longo prazo. Permite que o sistema funcione de forma eficiente e que desenvolvedores executem códigos em rede distribuída.

Os algoritmos de consenso proporcionam coordenação e concordância, fazendo com que participantes possam concordar com uma única fonte de “verdade”, ainda que seja tolerante a falhas. Em um sistema centralizado, apenas uma entidade tem poder sobre fontes de veracidade e logo sobre o sistema. Essa entidade pode fazer alterações no sistema como desejar. Em redes descentralizadas, é necessário que todas as partes possam concordar sobre uma transação e seu valor. Resolver esses problemas em um banco de dados compartilhado em que o “conflito de interesses” é inerente, foi um dos grandes feitos realizados pelo Bitcoin. Ou seja, a tecnologia funciona a despeito de qualquer outra coisa. O “Bitcoin faz alguma coisa”, ele cria escassez digital. Não apenas tem valor “porque as pessoas acreditam que têm”, mas tem valor intrínseco. Resolve problemas. É uma “coisa digital” por possuir determinadas características (é um “token”). PoW e PoS são duas formas de se estabelecer consenso; metodologias diferentes voltadas ao mesmo fim.

PoW 

É o algoritmo de consenso mais usado. Comumente outros protocolos são tentativas de otimizar as vulnerabilidades deste. O Bitcoin inovou ao usar o PoW para possibilitar que usuários estabeleçam consenso em grandes volumes de dados compartilhados. O PoW remunera quem cria mais blocos na rede com mais moedas, atividade conhecida como “Mineração/Mining”.

Nesse algoritmo, os mineradores (“validadores”) fazem hash dos dados que querem adicionar, até produzir uma solução específica e válida. 

O hash é uma sequência de números e letras que parece aleatória, criada quando dados são enviados por uma função hash. Se os dados forem reenviados, terá o mesmo resultado (saída), mas caso algum elemento seja alterado; o hash é totalmente diferente. Conhecendo o resultado/saída não é possível determinar a entrada inserida na função. Isso permite comprovar que alguém tinha uma informação antes de um determinado momento. É possível ofertar um hash a um usuário e mais tarde, ao revelar os dados, esse usuário pode inseri-los na mesma função para confirmar que a saída é a mesma; criando assim uma forma de autenticação.

O protocolo estabelece pré-requisitos para que um bloco seja válido, como o de que o fim do hash tenha os caracteres XYZ. Para falsear essa circunstância seria necessário criar blocos que correspondam a essa função e tentar diversas entradas. Criar essa circunstância é caro em termos computacionais, enquanto que apenas validar e verificar é muito pouco custoso. Caso não seja produzido um bloco válido; ele será rejeitado e o investimento de tempo, energia e equipamento é perdido. É uma lógica, em certos aspectos análoga a de chaves comuns; é fácil testar se uma chave é “a certa” simplesmente colocando-a na fechadura e girando. Agora; fazer uma cópia de uma chave falsa sem ter acesso a uma chave modelo é extremamente difícil.

PoS

É um mecanismo de consenso que permite que as blockchains operem de forma mais eficiente enquanto mantêm a característica de descentralização. É uma alternativa ao PoW proposta ao Bitcoin desde seu início, e é o tipo de algoritmo que possibilita o staking.

-Usa a liquidez dos ativos de usuários dispostos a fornecê-la em troca de incentivos econômicos (Staking).

-Remunera com taxas provenientes das transações (“fees”). Também conhecido como “Forja/Forging” (ainda: “cunha/cunhamento”). A remuneração é proporcional ao valor alocado.

-Possui mais eficiência energética e tem vantagens em segurança. As moedas “stakeadas” proporcionam liquidez ao mercado. Usando matemática avançada, inclusive teoria dos jogos; também há nesse sistema a noção de que recompensa mais ajudar o sistema a funcionar do que tentar burlá-lo.

A esperada atualização Casper na rede Ethereum 2.0, entre outras mudanças, promete implementar o PoS em larga escala.

-Não existem; mineradores, hardware especializado (ASICs- circuitos integrados de aplicação específica) e alto consumo de energia. É portanto, uma alternativa mais ecologicamente sustentável.

Contextualizando e lucrando com esses conhecimentos

Compreender o funcionamento das tecnologias é uma ótima forma de se tornar um investidor mais eficiente. A capacidade de identificar bons projetos, assim como o momento certo de investir pode passar por esses conhecimentos. Outras formas de criar “trustness” e consenso existem, e a inovação pode sair de muitos abordagens e ideias em constante melhoria. Apenas como um exemplo; a cripto moeda Solana (SOL) utiliza um mecanismo para atingir “trustless” chamado  “Proof of History” (“Prova de Historicidade”), sendo uma tecnologia de “terceira geração” de PoS, que utiliza uma abordagem diferente e tem por objetivo tornar as transações menos custosas. Não é propriamente um algoritmo de consenso, mas sim uma forma de melhorar o tempo gasto confirmando a ordem de transações usando hashs sequenciais. A possibilidade dessa tecnologia “vingar” e quando isso pode acontecer, pode gerar grandes possibilidades de lucros.

Quanto mais se compreende sobre esses mecanismos; melhores e mais rápidas podem ser as ações para investir e negociar com eficácia. Outra forma de lucrar é realizar staking, veremos mais a frente, após examinar algumas vantagens e desvantagens dessa modalidade.

Staking como modalidade de Investimento

Vantagens

– Diversificação e Renda Passiva; O mercado de cripto moedas é extremamente volátil. Negociar no curto prazo (“trade”) e “comprar e segurar” (“holding”) são formas populares de se aproximar desse mercado, e isso em geral exige investimento de tempo, conhecimento, esforço emocional e não há garantias. Até mesmo investidores lendários experimentam longos períodos de perdas, e uma boa alternativa é aumentar e variar as fontes de renda.

-Praticidade: Staking pode ser uma modalidade de investimento muito interessante, pois remunera com juros, requer pouco esforço de ativação (uma vez que tenha feito uma boa pesquisa) e nenhum esforço de manutenção. Essa renda pode complementar outras fontes e ser muito significativa caso seja implementada com habilidade.

-Baixo Valor Mínimo: Essa é uma grande vantagem para o pequeno investidor, que pode ter acesso a oportunidades interessantes de investimento com baixíssimo capital inicial. Algumas corretoras permitem realizar staking com quantidades mínimas de moeda; equivalentes a centavos de dólares. Em um ambiente em que os bancos, para o pequeno investidor ao menos, costumam ofertar poucos serviços de renda passiva e com taxas péssimas, essa é uma grande vantagem. Sobretudo no Brasil, onde o monopólio bancário é intenso. Além disse, em muitos locais no Brasil e no mundo, grandes parcelas da população não tem acesso a conta bancária sequer.

-Pouco conhecimento: para começar a fazer staking em uma corretora centralizada é preciso pouco conhecimento especializado, sendo o mais importante escolher uma boa moeda para realizar a estratégia.

Riscos e Desvantagens

-Erros ao operar: mesmo as opções mais simples de staking exigem algum conhecimento técnico, envolvendo calcular juros, lidar com a plataforma escolhida, preencher campos etc. Para alguns usuários esse é um risco considerável. Algumas opções são avançadas e erros como perder uma senha do tipo “frase semente” (“seed phrase”) pode acarretar perder todos os fundos dessa carteira. O uso de corretoras centralizadas com interfaces mais amigáveis aos iniciantes é uma ótima forma de começar.

-Ficar preso; enquanto o prazo do staking se desenrola; não é possível dispor dos ativos sem quebrar o contrato; assim caso o ativo em staking se valorize muito; o usuário terá que escolher entre “perder” os incentivos adquiridos desde o início do staking e ainda ter que esperar um prazo para os ativos ficarem disponíveis (em geral, algumas horas ou dias; importante checar as condições antes de “stakear”) e só então poder vender os ativos, ou permanecer no staking até o fim do prazo; receber as recompensas e só então poder vender. De qualquer forma o ativo fica menos líquido nesse período, e é exatamente essa liquidez que o investidor cede ao mercado em troca de uma remuneração.

-Bugs; staking sempre possui o risco de bugs e deve-se pesquisar bem as opções disponíveis, muitas vezes com grandes diferenças de qualidade entre si. Plataformas com código aberto (“opensource”) são  acompanhadas de perto por comunidades de programadores e usuários; sendo esse um diferencial que minimiza o risco. Ainda, o uso de corretoras centralizadas também minimiza esse risco, pois há um time ocupado com essas questões e também é do interesse da corretora diminuir esses riscos.

-Stakear moedas de baixo potencial; não adianta muito fazer staking em uma moeda que rende 3%  (em quantidade da própria moeda) ao mês, mas cujo valor da moeda em si tende a se desvalorizar mais do que isso. A prioridade deve ser otimizar uma boa estratégia de holding com o staking, e não simplesmente construir uma estratégia em torno de uma moeda que paga uma boa taxa. A busca deve ser no sentido de somar uma boa valorização da moeda em si, com uma boa remuneração de staking, e isso exige uma pesquisa independente da atividade de staking em si. 

                        Na prática…

Em geral, a expectativa de retorno em staking é mensurada pela métrica APY (Annual Percentage Yield – Porcentagem de rendimento anual), que leva em conta o reinvestimento (juros compostos). 

Se você já possui algumas cripto moedas que não pretende vender no prazo de alguns dias; essa pode ser uma ótima oportunidade de começar a realizar operações de Staking na prática e se familiarizar com os procedimentos.

Usaremos como exemplo o Staking na corretora Binance por ser uma das formas mais simples e amigáveis;

-Uma vez em sua conta, arreste o mouse sobre o campo Finanças na aba superior; um menu se abrirá; clique em “Binance Earn”. Procure por “Staking Bloqueado” e clique em “Veja mais”. Agora analise a lista completa de possibilidades de Staking, ou use o campo de busca. 

-Ache uma moeda que já possua e pretenda manter por um prazo superior aos períodos de staking oferecidos nos “pacotes” (15,30,60 e 90 dias) e comece com um pequeno valor para se familiarizar (é possível realizar esse processo com centavos de Real ou Dólar – e começar com pouco é frequentemente uma boa ideia ao testar algo novo!). Após aproximadamente 24 horas, poderá verificar um acréscimo relativo ao APY dividida pelo período de staking escolhido, levando em conta o tempo transcorrido.

Exemplo;

Uma proposta de staking que pague 24% de APY e dure 15 dias, vai remunerar 1 % em quinze dias (24% relativo a um ano, divididos por 24; pois é um período de 15 dias). Ao verificar os saldos depois de aproximadamente 24 horas; o juros total do pacote dividido por 15 deverá aparecer, sendo relativo ao primeiro dia (1% dividido por 15 dias; um rendimento de aproximadamente 0.06% ao dia). Assim a cada dia sucessivamente até o fim do pacote de 15 dias. O valor acrescido será na própria cripto moeda e independe da valorização ou desvalorização desse ativo em relação a outros.

Pode parecer pouco em números absolutos, mas lembre-se do poder dos juros compostos associados ao tempo. Como a estratégia base é manter esses ativos; esse processo pode ser repetido muitas vezes, enquanto o investidor tiver a posse dos ativos, gerando um substancial lucro extra (24% de lucro por ano, em cima de um cripto ativo que já tem sua própria valorização, supondo que seja o caso). Há uma incidência de juros compostos sobre algo que potencialmente já se valoriza; interessante. Também há a opção de escolher um pacote de maior duração, evitando assim ter que repetir esse processo. Entretanto os prazos mais apropriados devem ser escolhidos com base na sua estratégia, levando em conta vários fatores, não só as taxas de APY e o prazo.

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